A Bloomberg trouxe ontem uma discussão de especialistas sobre os reais benefícios do uso do Bevacizumabe (nome comercial Avastin) em vários tipos de câncer.
O Bevacizumabe foi visto inicialmente como uma forma inovadora e brilhante de atacar as células tumorais: privando-as do fluxo sanguíneo. Como droga atuante na angiogênese (formação de microvasos sanguíneos), estudos iniciais demonstraram que realmente havia diminuição da circulação sanguinea tumoral, após a aplicação do medicamento. Esperava-se também a ausência de efeitos colaterais...
O problema foram os resultados de estudos clínicos mais bem conduzidos, e que compararam pacientes com vários tipos de câncer que utilizaram o Avastin em combinação com quimioterapia, com pacientes semelhantes mas que receberam somente quimioterapia, sem o Avastin.
A discussão dos especialistas sugere que os benefícios encontrados foram pequenos, não clinicamente significantes. E que os riscos do uso do Avastin são problemáticos - os principais efeitos colaterais encontrados foram aumento do risco de sangramentos, trombose e perfurações intestinais. Apesar de não muito comuns, os efeitos colaterais encontrados colocam em risco a vida dos pacientes, e frequentemente aparecem de forma súbita.
O Avastin é hoje uma das drogas mais rentáveis da indústria farmacêutica, gerando no mundo uma receita anual de cerca de quase 7 bilhões de dólares à Roche, sua fabricante. É também um dos principais problemas dos planos de saúde no Brasil e em outros países do mundo, devido ao seu altíssimo custo. Logicamente, esse custo se deve ao caráter inovador do medicamento, mas também à agressiva estratégia de marketing do seu fabricante.
O Avastin é hoje aprovado pela ANVISA no Brasil para ser associado à quimioterapia em pacientes com câncer avançado de colon, pulmão e mama. Com a demonstração das limitações do medicamento, nos dias de hoje, é provável que a discussão se estenda mais, e que se criem mais limitações para seu uso.
Também será necessária a discussão de formas mais responsáveis de avaliação de novas drogas e tecnologias, com ponderação baseada em boas evidências científicas. Somente assim será possível, antes de expor pacientes a riscos desnecessários, avaliar de forma correta a relação risco/benefício de novas terapias contra o câncer.
O CEVON (Centro de Evidências em Oncologia), da UNICAMP, é um dos centros de pesquisa no Brasil que tem como missão tentar fazer essas avaliações de tecnologia, e ajudar a sociedade médica e científica a se manter atualizada, porém com responsabilidade e baseada sempre nas melhores evidências disponíveis. Como coordenador deste centro, acredito que a educação médica é a principal forma de lidarmos com estes questionamentos. Um médico bem informado e crítico pode repassar essas informações sobre riscos/benefícios para cada um de seus pacientes, e decidir em conjunto a melhor terapia, individualmente .
Para quem quiser ler a discussão completa, em inglês, clique aqui.
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Um comentário:
Minha esposa foi medicada com avadtin e não está aguentando o calor e frio simultâneo. Muito frio e valores segundos
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