quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Protetor solar reduz incidência de melanoma
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
ASCO 2011
De todos os trabalhos apresentados, cinco foram considerados os de maior impacto.Dois eram em oncologia pediátrica, um em GIST (um tipo raro de tumor) e dois em melanoma.
Estes últimos foram os que chamaram mais a atenção de todos, porque podem significar um novo tratamento padrão para melanoma.
Até hoje não havia nenhuma terapia que fosse eficaz contra essa doença - é usada nos pacientes com melanoma metastatico uma droga chamada dacarbazina, desenvolvida na década de 70, e que em 5 a 10% dos pacientes conseguia fazer os tumores encolherem, e mesmo assim por um curto espaço de tempo. Nunca se demonstrou um aumento na expectativa de vida dos pacientes.
O primeiro estudo trouxe os resultados mais impressionantes, e comparou o uso de dacarbazina versus o de uma droga de alvo molecular chamada vemurafenibe. Essa droga age em uma mutação de uma proteína chamada BRAF. Essa mutação ocorre em cerca de metade dos casos de melanoma. O estudo:
- avaliou 675 pacientes (todos com mutação do BRAF) de 103 centros de todo o mundo
- dividiu de forma aleatorizada os pacientes em dois grupos, para receber dacarbazina ou vemurafenibe
- mostrou que o grupo que recebeu vemurafenibe teve 74% de reducao do risco de progressao da doenca, mas principalmente 63% de redução do risco de morte
- 5% dos pacientes que receberam dacarbazina tiveram redução do volume de doença, em contraste aos que receberam vemurafenibe, em que essa taxa foi de 48%
Desta forma, há uma nova esperança para pacientes com melanoma metastatico. A detecção da mutação pode ser feita em laboratórios especializados, existentes no Brasil, e esperamos que o registro do medicamento para uso no Brasil e em todo mundo seja feita de forma rápida.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Especialistas questionam o "brilhante conceito" do Avastin, após resultados fracos de estudos clínicos
O Bevacizumabe foi visto inicialmente como uma forma inovadora e brilhante de atacar as células tumorais: privando-as do fluxo sanguíneo. Como droga atuante na angiogênese (formação de microvasos sanguíneos), estudos iniciais demonstraram que realmente havia diminuição da circulação sanguinea tumoral, após a aplicação do medicamento. Esperava-se também a ausência de efeitos colaterais...
O problema foram os resultados de estudos clínicos mais bem conduzidos, e que compararam pacientes com vários tipos de câncer que utilizaram o Avastin em combinação com quimioterapia, com pacientes semelhantes mas que receberam somente quimioterapia, sem o Avastin.
A discussão dos especialistas sugere que os benefícios encontrados foram pequenos, não clinicamente significantes. E que os riscos do uso do Avastin são problemáticos - os principais efeitos colaterais encontrados foram aumento do risco de sangramentos, trombose e perfurações intestinais. Apesar de não muito comuns, os efeitos colaterais encontrados colocam em risco a vida dos pacientes, e frequentemente aparecem de forma súbita.
O Avastin é hoje uma das drogas mais rentáveis da indústria farmacêutica, gerando no mundo uma receita anual de cerca de quase 7 bilhões de dólares à Roche, sua fabricante. É também um dos principais problemas dos planos de saúde no Brasil e em outros países do mundo, devido ao seu altíssimo custo. Logicamente, esse custo se deve ao caráter inovador do medicamento, mas também à agressiva estratégia de marketing do seu fabricante.
O Avastin é hoje aprovado pela ANVISA no Brasil para ser associado à quimioterapia em pacientes com câncer avançado de colon, pulmão e mama. Com a demonstração das limitações do medicamento, nos dias de hoje, é provável que a discussão se estenda mais, e que se criem mais limitações para seu uso.
Também será necessária a discussão de formas mais responsáveis de avaliação de novas drogas e tecnologias, com ponderação baseada em boas evidências científicas. Somente assim será possível, antes de expor pacientes a riscos desnecessários, avaliar de forma correta a relação risco/benefício de novas terapias contra o câncer.
O CEVON (Centro de Evidências em Oncologia), da UNICAMP, é um dos centros de pesquisa no Brasil que tem como missão tentar fazer essas avaliações de tecnologia, e ajudar a sociedade médica e científica a se manter atualizada, porém com responsabilidade e baseada sempre nas melhores evidências disponíveis. Como coordenador deste centro, acredito que a educação médica é a principal forma de lidarmos com estes questionamentos. Um médico bem informado e crítico pode repassar essas informações sobre riscos/benefícios para cada um de seus pacientes, e decidir em conjunto a melhor terapia, individualmente .
Para quem quiser ler a discussão completa, em inglês, clique aqui.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Aspirina pode diminuir o risco de morte por Câncer
No mundo moderno, o risco de se desenvolver um câncer ao longo da vida é da ordem de 40% e vem aumentando rapidamente. Só na Europa são 3,2 milhões de novos casos todos os anos, com 1,7 milhões de mortes. A previsão do Instituto Nacional do Câncer (INCA) para o Brasil em 2011 são de 500 mil novos casos. Apesar do desenvolvimento de novas drogas para o tratamento, não surgiram nos últimos anos medicações de grande impacto na prevenção do câncer. Em estudos com modelos animais a aspirina se mostrou eficaz em diminuir a incidência de vários tipos de tumores. No entanto, nos estudos com humanos os dados eram conflitantes, parecendo haver relação entre uso de aspirina e menor incidência de adenomas benignos (lesões pré-malignas em intestino), mas sem evidências claras na diminuição da incidência e morte por câncer.
Estudo recente publicado na edição de janeiro da revista médica inglesa The Lancet sugere que o uso diário de aspirina por 5 anos ou mais poderia reduzir o risco de morte por vários tipos de neoplasias. Essa é a conclusão de uma análise de vários estudos que primariamente tinham como objetivo avaliar essa medicação na prevenção de eventos cardiovasculares. Os pesquisadores analisaram de forma agrupada oito estudos randomizados (com um total de 25.570 pacientes) onde os pacientes eram alocados para receber aspirina diariamente ou placebo ou outro antiplaquetário, com duração mínima de quatro anos. Esses pacientes foram acompanhados durante o estudo e após o término dos mesmos por até 20 anos e aqueles que morreram durante o estudo ou follow-up tinham a causa da morte determinada.
Os dados desta publicação mostraram que os pacientes que receberam aspirina diariamente morreram menos por câncer. O beneficio da aspirina começa a aparecer apenas após 5 anos do seu uso e parece ter diminuído as mortes por câncer não apenas de trato gastrointestinal, mas também de outros tumores , como de cérebro, pulmão e próstata. No entanto não teve impacto na redução de outros tumores, como as doenças malignas hematológicas. A redução do risco de morte por câncer nos pacientes que usaram aspirina foi de 33%, sendo uma redução de 54% para os tumores gastrointestinais, com as maiores quedas observadas em esôfago e intestino. Mesmo após 20 anos de seguimento os benefícios da aspirina se mantiveram.
A redução de morte por alguns tumores só foi observada tardiamente, como no caso de tumores de pâncreas após sete anos e tumores de estômago e intestino após dez anos. Os resultados independem do sexo, da raça, se o paciente fumava ou não e da dose de aspirina usada (mínimo de 75 mg/dia). Mas o impacto foi maior nos pacientes com mais de 65 anos e quanto maior o tempo de uso da aspirina. Além disso, os resultados foram semelhantes entre os oito estudos, sugerindo maior consistência dos dados.
No entanto, é preciso considerar algumas limitações e alguns possíveis vieses que podem ter interferindo no resultado. Primeiramente, esses estudos não foram desenhados para determinar o impacto da aspirina na incidência e mortalidade por câncer e sim o seu efeito relacionado a eventos cardiovasculares. Além disso, a maior incidência de anemia e sangramento no grupo da aspirina pode ter levado a uma maior investigação e detecção precoce de câncer. E finalmente, houve uma redução em todas as causas de morte no grupo da aspirina e não somente por neoplasia. Isso significa que novos estudos precisam ser realizados na tentativa de determinar de forma consistente e definitiva o beneficio da aspirina na prevenção do câncer.
Mas esse é o primeiro grande estudo que mostrou haver diminuição na incidência e mortalidade de diversos tipos de neoplasias solidas, não apenas tumores intestinais, em pacientes que fizeram uso de aspirina por no mínimo 5 anos. Além disso, esse beneficio não foi encontrado em nenhum outro agente antiplaquetário, o que coloca a aspirina como uma droga potencialmente efetiva na prevenção de mortes por câncer.
Resenha de artigo publicado no Lancet. 2011 Jan 1;377(9759):31-41.
Por Vinicius Correa da Conceição - médico oncologista do Instituto do Radium de Campinas e do Hospital Vera Cruz de Campinas
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Planos de saúde terão que justificar negativas de cobertura
O texto também obriga as empresas a informarem, a cada três meses, o número e motivos das negativas à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e outros órgãos. Outras mudanças na lei dos Planos de Saúde fazem parte da proposta do parlamentar cearense. Maria Inês Dolci, advogada da Pro-Teste, que participou da elaboração do projeto, aponta que essa obrigação é bem vinda.
Hoje as negativas costumam ser dadas por telefone ou devolução do pedido, sem maiores explicações. "Consumidor tem direito a saber o motivo, mas não há regra que obrigue a justificar, ainda mais por escrito. O usuário dos planos sai ganhando com essa medida", avalia.
Ela não acredita que a recusa documentada aumente o número das ações na Justiça, mas vai ajudar a garantir o direito do consumidor. "Hoje o consumidor entra na justiça de qualquer maneira quando precisa de procedimento que é negado. Após pedido de liminar, a Justiça avalia se a negativa tem fundamento, mesmo sem justificativa do plano", explica.
Para o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) no Rio, Sérgio Vieira, a medida é positiva por proteger o consumidor. Ele destaca, porém, que a justificativa já é feita quando o usuário faz uma reclamação à ANS. Uma vez aberta a Notificação de Investigação Preliminar (NIP), a operadora tem cinco dias para justificar a recusa e apontar uma solução para o problema."Isso já vem sendo feito", argumenta.
Fonte : Agência Brasil "
domingo, 19 de dezembro de 2010
FDA suspende aprovação do Avastin em câncer de mama nos EUA. Europa diverge.
O órgão havia concedido a aprovação inicialmente em caráter provisório, logo após publicação de artigo demonstrando que a associação do Bevacizumabe à quimioterapia convencional com Paclitaxel melhorava a taxa de controle da doença e a duração desse controle.
Após a publicação de outros estudos, avaliando a combinação do Bevacizumabe a outros tipos de quimioterapia, verificou-se que os resultados não são homogêneos, e que mais estudos talvez tenham que ser feitos para melhor identificar as pacientes que podem se beneficiar do uso do tratamento combinado. Após consulta a um grupo de especialistas, houve a recomendação de suspender a aprovação em bula. A alegação principal é que se utilizado em todas as pacientes os riscos de efeitos colaterais podem superar os eventuais benefícios.
A medida ainda não afeta pacientes e médicos. Durante um tempo, ainda não definido, o FDA manterá o registro em bula para que haja a possibilidade de discussão do assunto entre médicos oncologistas e pacientes.
No Brasil a ANVISA ainda não se pronunciou sobre o assunto, e o Avastin continua com sua aprovação mantida, em bula.
Na Europa, o EMEA, órgão que regulamenta as indicações no continente, afirmou que manterá a aprovação, cabendo aos médicos a discussão com os pacientes sobre a relação riscos/benefícios do Bevacizumabe.
Na minha opinião o tema é muito complexo, e envolve a discussão sobre o que esperamos das novas tecnologias, e o quanto estamos dispostos a pagar por pequenos avanços no tratamento do câncer. Realmente nem todas as pacientes têm a necessidade de usar o Bevacizumabe. Por outro lado, negar simplesmente o acessso a todas elas pode representar um retrocesso marcante.
O ideal seria programar mais estudos para tentar identificar pacientes que mais se beneficiam de cada tipo de tratamento, para maximizar os potenciais benefícios.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Justiça Federal derruba liminar e libera prática da ortotanásia no País
A Justiça Federal revogou a liminar que suspendia a regulamentação da ortotanásia no Brasil. Em sua decisão, que deve ser publicada no Diário Oficial na próxima semana, o juiz Roberto Luis Luchi Demo julgou improcedente a ação do Ministério Público que apontava a inconstitucionalidade da medida. Dessa forma, os médicos ficam definitivamente respaldados para recorrer à prática.
Aceitação. Médicos que trabalham em UTI defendem cuidados paliativos e diminuição dos procedimentos desnecessários
A ortotanásia é a suspensão de tratamentos invasivos que prolonguem a vida de pacientes em estado terminal, sem chances de cura. Para isso, o médico deve ter a anuência do doente ou, se este for incapaz, de seus familiares. Ao contrário do que acontece na eutanásia, não há indução da morte.
São exemplos conhecidos de prática da ortotanásia o caso do papa João Paulo II, morto em 2005, e do ex-governador de São Paulo Mário Covas, que optou por passar os últimos momentos de vida recebendo apenas cuidados paliativos.
A situação vivida por ele levou à aprovação de uma lei estadual que dá aos doentes o direito de não se submeter a tratamentos dolorosos e inúteis quando não há chance de cura.
A prática está alinhada com o novo Código de Ética Médica (CEM), que entrou em vigor em abril deste ano e determina que o médico ofereça cuidados paliativos para deixar o paciente confortável e evite exames ou tratamento desnecessários que prolonguem o processo de morte.
"No código, colocamos a questão da ortotanásia de maneira mais branda, mas já apontamos o caminho dos cuidados paliativos", explica Roberto D"Avila, presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM).
A polêmica. Embora nunca tenha sido considerada infração ética ou crime, muitos médicos hesitavam em praticar a ortotanásia por medo da reação dos familiares e dos colegas ou por convicção. Em 2006, o CFM aprovou uma resolução regulamentando a prática. O texto deixava claro que tratamentos desnecessários poderiam ser interrompidos quando não houvesse chance de cura. Isso inclui, por exemplo, desligar o aparelho de um paciente na UTI e deixá-lo passar seus últimos dias em casa, se essa for sua vontade. Mas o então procurador dos Direitos do Cidadão do Distrito Federal, Wellington Oliveira, entendeu que a ortotanásia não está prevista na legislação brasileira e a resolução estimularia os médicos a praticar homicídio. Ingressou com ação civil pública, alegando que somente uma lei poderia permitir tal prática. No ano seguinte, obteve liminar na Justiça Federal em Brasília suspendendo a resolução.
Em agosto deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) revisou a ação. A procuradora Luciana Loureiro, que sucedeu Oliveira no processo, afirmou que a ação confundiu ortotanásia com eutanásia.
Com base no novo parecer do MPF e outras manifestações favoráveis à ortotanásia, Luchi Demo julgou a ação improcedente. Em sua sentença, o magistrado relata que, após refletir muito sobre o tema, chegou à convicção de que a resolução do CFM não é inconstitucional.
"Alinho-me pois à tese defendida pelo Conselho Federal de Medicina em todo o processo e pelo Ministério Público Federal nas sua alegações finais, haja vista que traduz, na perspectiva da resolução questionada, a interpretação mais adequada do Direito em face do atual estado de arte da medicina. E o faço com base nas razões da bem-lançada manifestação da ilustre procuradora da República Luciana Loureiro Oliveira", diz o texto.
Repercussão. Em entrevista ao Estado, D"Avila comemorou a decisão e afirmou ter sido positiva a discussão que a ação do MPF suscitou na sociedade nos últimos três anos. "Isso ajudou a amadurecer o entendimento de que com o avanço da tecnologia é preciso impor limites para que não se prolongue o processo de morte inadequadamente", afirmou o médico.
Membros da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) também comemoraram a decisão, conta Rachel Moritz, Presidente do Comitê de Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos da entidade. "Essa discussão chegou à medicina intensiva há mais tempo, pois lidamos muito com alta tecnologia", explica. "Todos os médicos, quando entendem o conceito de deixar morrer no tempo certo, concordam com a ortotanásia."
A Igreja Católica, que em outras ocasiões havia se manifestado favorável à prática, considera uma boa notícia a revogação da liminar. "A Igreja considera imorais tanto a eutanásia como a distanásia. Nos dois casos, a vida humana é desrespeitada", afirma d. Antonio Augusto Dias Duarte, membro da Comissão de Bioética da Comissão Pastoral Episcopal para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). "De qualquer forma, o texto da resolução do CFM poderia ser mais explícito", pondera d. Antonio. "Como trata da vida das pessoas com doenças incuráveis, deveria deixar claro que a eutanásia é um mal."
Fonte: O Estado de São Paulo